segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Cinquenta anos



Cinquenta anos. Seiscentos meses. Dezoito mil dias. Quatrocentos e trinta e duas mil horas. Uma vida. Uma história. Cinquenta anos. Uma vida. Muitas histórias. Isso mesmo. Foi preciso peregrinar uma longa jornada, muitas idas e vindas. Barreiras foram transponizadas, estradas de diferentes sentidos foram percorridas; algumas vencidas outras desviadas, mas sempre enfrentadas com muita dedicação, persistência, mas acima de tudo, por um sonho realizável. Sonho, sonhado. Sonho realizado. Assim foram os meus dias até então.
Sempre “invejei” aqueles que ao final de um ciclo anual, conquistam de forma merecida um tempo de descanso. Eu sempre batalhei, exercendo determinadas funções, ou seja, trabalhava para mim mesmo. Quase toda minha vida fui roceiro, lavrador mesmo. Nasci e me criei no seio da agricultura, desempenhando múltiplas funções sem ao menos dar-me um tempo só meu. Constantemente eu me perguntava: ─ por que eu não me dou um tempo só pra mim? E assim fui vencendo ano, após ano, ignorando o meu corpo que me cobrava, exigia um tempo, uma folga para uma reflexão, para um descanso.
Eis que há alguns anos atrás surgiu à oportunidade de trabalhar numa empresa. Submeti-me a ser comandado. Deixei de ser dono do que eu fazia para me tornar um subordinado. Até ai tudo bem. Como consequência disso, ganhei muitos amigos, alguns temporários, outros mais duradouros, mas, sobretudo, aprendi e muito com a nova vida, com o novo trabalho.
A agricultura familiar está nos sufocando por conta de uma política agrícola onde o pequeno produtor não consegue mais sobreviver perante as mudanças, quer seja pela tecnologia exigindo investimentos maciços, pela competitividade desenfreada, afugentando muitas pessoas para as cidades, quase todas desprovidas de formação.
Dessa forma, desmotivado por não poder cumprir com minhas obrigações, decidi adentrar na área industrial.
Cinquenta anos vividos e pela primeira vez tenho diante de mim trinta dias de férias, como forma restauradora de minhas energias empenhadas ao longo dos últimos doze meses. Aliás, merecidas. Cinquenta anos. Verdadeiramente, minhas primeiras férias. Imagina você que sempre teve esse privilegio e talvez passou despercebido. Estou feliz. Infinitamente feliz. Ainda estou em processo de sorver o sabor da parada, da folga, pois parece que a ficha ainda não caiu. Mas ela cairá. E cairá inteiramente sobre mim. Cinquenta anos, e, eu tenho diante de mim um tempo só para mim. Além deste tempo, que conquistei a duras penas, adentro num novo ciclo, um novo ano, uma nova esperança, enfim, ano novo, tudo novo com novas perspectivas e quem sabe 2012 seja o ano da publicação de meu rebento. Que venha 2012 com seus dilemas a serem enfrentados, seus percalços a serem superados, seus desafios a serem vencidos... Estou pronto para senti-lo, para amá-lo, para vencê-lo...

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