A
palavra e a inspiração
Às vezes eu me
questiono: porque eu me sinto impotente, se já fui muito bom na escrita? Se por
hora não estou conseguindo juntar as silabas, ultimamente tenho estado um tanto
desencorajado para com as palavras e a inspiração, fieis escudeiras de longas
datas. Eu não compreendo como elas fogem assim de mim se nem mesmo me avisar, sobretudo
quando eu mais preciso delas. De repente voltam como quem não quer nada e se
recostam como que dizendo, vamos a luta que hoje eu resolvi se boazinha
contigo. Não perde tempo, junta teus apetrechos e põe no papel o que eu tenho
pra te inspirar. Então eu lhe questiono:
─ porque você (inspiração)
foge de mim sem nem mesmo me dar uma satisfação? Sabe como é sempre tem quem me
procura para uma poesia, um conto ou uma história qualquer, desde que tenha
algum fundamento.
Com um ar de
sarcasmo, responde a inspiração:
─ eu não me distancio
de ti poeta. Estou sempre por perto. Você é que fica aéreo e avoado com o
pensamento em outras coisas que não seja em mim e dai não consegue formar nada.
Acho que você está apaixonado, daí em vez de ser criativo, mira todas as tuas atenções
nessas coisas. Mulher é bom eu sei, mesmo assim contenha-se. Tudo há seu tempo.
─ Você (inspiração)
em vez de me ajudar, ficando do meu lado, vem aqui querer me corrigir, dizer
que meu pensamento voa e esqueço-me de criar frases. Às vezes penso em largar
tudo, jogar tudo para o alto e esquecer essa idiotice que é escrever sonhos que
mais parecem desconexas (aos olhos dos certinhos) e que tenho que garimpar. Pra
que eu consiga tais escritas eu preciso gravitar em torno de mim mesmo, caso
contrário, tudo em mim se desvanece.
A inspiração chamou
a palavra que coincidentemente passava por ali e pediu-lhe uma opinião:
─ Amiga palavra,
eu preciso que você me auxilie com este sonhador que está a um passo de
desistir de nos endeusar. Creio que se a gente o encorajar, enaltecendo os seus
escritos, talvez possamos fazer com que ele redescubra a sua melhor forma. O que
achas disso, palavra?
─ Amiga inspiração,
eu, há algum tempo venho percebendo que nosso amigo escritor está passando por
uma fase difícil. O seu coração está envolto em situações desagradáveis que não
convêm comentar. Até a família ele vem desdenhando, quanto mais nós duas que
tanto fomos suas fieis escudeiras.
─ Visse amigo,
disse a palavra. O problema é contigo e não com nós. Largue a mão de ser besta,
esqueça a enrascada em que você se meteu e volte a ser o seu melhor.
O amigo escritor
que a tempo ouvia calado, ficou matutando onde estava o erro. Seria aquela morena que com as suas carícias
roubou-lhe a concentração, ou seria aqueles olhos verdes daquela loira que
desestabilizou as suas rimas?
─ Acho que já
sei o que me acomete, disse o pensador. Se vocês prometerem me ajudar eu posso
tentar esquecer as ilusões que tanto apoquentam a minha vida e ficar mais próximo
da realidade, pois acho que é só com ela (a realidade) que eu vou conseguir.
A inspiração interveio:
─Não é a ilusão que
te apoquenta ou te apequena, mas a forma que você a conduz.
A palavra
complementou:
─ Isso mesmo. Não
te desligues da ilusão. Ela é extremamente útil a ti. Você pode muito bem
conviver com a ilusão e a realidade. Apenas saiba dosar que tudo dará certo.
─Mas vocês prometem
ficarem sempre por perto de mim daqui por diante? Disse o escritor, já mais
entusiasmado.
─Claro que sim,
disse a inspiração.
A palavra
emendou:
─Nós sempre
fazemos parte de ti. Nós não o abandonamos, apenas nos afastamos para que você (escritor)
pudesse refletir e sentir o quão errado estava. Agora que você entendeu a tua missão,
só nos resta lhe apoiar em tudo que lhe vier à mente. Crie que nós o
acompanhamos. Mãos a obra parceiro, e que consigas redigir grandes conquistas
para que o público o aplauda de pé com todo merecimento, e nós duas estaremos
sempre a teu lado soprando-lhe boas energias e muito positivismo.
─Obrigado a vocês
amigas. Sem o reencontro dessa parceira eu certamente iria desistir. O legal
foi o “puxão de orelha” que vocês me deram. Só assim para eu perceber o abismo
em que eu ia me enfiar.
E dessa forma,
tudo voltou ao normal, às amigas inseparáveis; a inspiração e a palavra
permaneceram unidas para sempre junto do amigo escritor.
“Deus não nos abandona por completo; Ele apenas
espera pacientemente que consigamos enxergar por si mesmos o erro cometido, e,
com isso, possamos retomar o melhor caminho a seguir”.

